Crónicas do Tempo que Passou

João Lopes Filho lança “Crónicas do Tempo que Passou”

João Lopes Filho lança o livro “Crónicas do Tempo que Passou” esta sexta-feira, 20, às 18h00, no Real Tours/Terreiro da Cultura, Cidade Velha. Editado pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, a obra tem Ribeira Grande de Santiago como o cenário das crónicas do antropólogo e historiador.Iva Cabral apresentará este livro cujo lançamento conta com o apoio da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago porque a obra, diz a CMRGS, “contribui para o património cultural da Cidade Velha” e vai “enriquecer a bibliografia que tem por tema o berço da Nação cabo-verdiana”.

João Lopes Filho é professor da Universidade Nova de Lisboa, da Universidade de Cabo Verde, e autor de vasta obra que versa diferentes áreas do saber. “Cabo Verde – Retalhos do Quotidiano”, In Memoriam João Lopes e “Olhares Partilhados” são três dos seus livros.

in Site ASEMANA, 20 de Março de 2009

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Texto de apresentação do livro CRÓNICAS DO TEMPO QUE PASSOU pela Sr. Dra Iva Cabral

Praia, IBNL, 2009 (191 pgs.)

Mais uma vez tive a honra de ser convidada pelo meu amigo Professor João Lopes Filho para dizer algumas palavras sobre o seu recente, mas não derradeiro, livro que porta um título sugestivo “Crónicas do tempo que passou”.

Este título introduz o leitor naquilo que descobrirá quando tiver a curiosidade intelectual de ler o livro, já que o professor ajuntou nele, não só, vários textos sobre a sua visão da História da nação cabo-verdiana, da forma como ela é e deve continuar a ser “construída”, da conservação e da importância dos vestígios matérias que o passado nos deixou, mas também nos proporciona a possibilidade de conhecer importantes testemunhos escritos desse passado.

Alguns dos textos (11) reunidos neste livro já foram publicados (em actas de colóquios, revistas, etc.) num espaço de tempo que vai desde o ano de 1983 a 2001, o que nos permite apreender quais foram, nesse período, os temas que mais interessaram ao autor e a abrangência de suas inquietações intelectuais.

Assim podemos dividir o livro e, com ele, esses interesses ecléticos por diversos assuntos:
1.    Textos de cunho histórico e sobre a construção da História;
2.    A preservação dos vestígios históricos: a museologia, os patrimónios histórico e cultural;
3.    Análise e apresentação de textos de interesse para a nossa Cultura.

No primeiro grupo podemos incluir os textos: “A seca – fome de 1903”, “Cabo Verde, Arquipélago – escala” e a reflexão feita sobre “A Construção da História em Cabo Verde”, o que não quer dizer que nos outros textos não encontremos variadíssimas informações de cariz histórica e antropológica.

No estudo sobre a seca de 1903, João Lopes Filho faz uma enumeração das várias secas que fustigaram as ilhas durante a sua história, concentrando-se sobretudo na seca e fome de 1903, nas suas desastrosas e calamitosas consequências, na falta de auxilio do governo central e na tentativa de, através de acções de benficiência, tais como o festival de beneficência organizado sob o alto patrocínio da Rainha e que obteve alguns contos de reis com os quais se enviou para Cabo Verde um carregamento de géneros alimentícios e tecidos para vestuário.

No texto “Cabo Verde, Arquipélago – Escala”, o autor conta-nos a história da primeira travessia aérea comercial do Atlântico Sul, na viagem inaugural do maior hidroavião construído na altura e na qual participou Gago Coutinho, as peripécias do percurso e a escala que fizeram na Praia, em Maio de 1931.

Na reflexão que o autor faz sobre a “Construção da História em Cabo Verde” quero salientar vários aspectos:
•    A importância que dá ao conhecimento histórico para a afirmação da nossa Identidade
•    A necessidade de alargar a investigação da nossa História a outros arquivos, já que devem existir documentos fundamentais sobre o nosso passado dispersos em países. Por exemplo no Vaticano, no Reino Unido, no Brasil etc.
•    A importância da criação do Arquivo Histórico Nacional, depositário do nosso passado escrito e documentado.
•    A indispensabilidade de complementar a escrita da história com fontes orais, já que a maioria da nossa herança cultural foi transmitida através da oralidade.
•    Sendo como somos uma nação diasporizada é, também, premente que incorporemos na construção da nossa história aspectos relacionados com a imigração cabo-verdiana.

O Autor acaba esta reflexão com uma nota de esperança, já que se diz crente que “o engenho dos obreiros da História de Cabo Verde conseguirão ultrapassar desfasamentos cronológicos” e suprir, através de um cada vez mais alargado leque de fontes e de suportes diversos as falhas ainda existentes a nível da informação.
Esta será a missão da nova geração de historiadores!

No segundo grupo de textos (sobre preservação dos vestígios históricos) destacamos quatro:
 Os dois primeiros debruçam-se sobre a “Construção de Museus em Cabo Verde”,  “Musealização da Ribeira Grande” e “Por uma política museológica em Cabo Verde”.

Neles, João Lopes Filho rejeita o velho conceito de museus como um mero “depósito de objectos histórico-culturais” e milita por uma nova concepção que faça do museu uma instituição dinâmica “empenhada não apenas na conservação, como também na comunicação/divulgação, formação/educação e reforça das relações com a comunidade em que se incere”.

No texto “A Dinamização do Património Cultural e o Desenvolvimento” o Autor adverte que “...a noção de Património implica diferentes conceitos, já que esta associado ao factor tempo e a aspectos económicos, jurídicos e filosóficos, estabelecendo ainda, relações estreitas entre o homem, os objectos, o meio ambiente e a herança cultural”. Por isso - diz João Lopes Filho - “identificar um bem como património leva a considerar-se que, sendo algo com significado no passado, deverá continuar a sê-lo no futuro, visto constituir uma referência do respectivo contexto sociocultural”. No texto são ainda identificados vários tipos de Patrimónios.
Inclui o quarto texto – “Pelourinho da Cidade Velha” - neste grupo, já que esse monumento é um bom exemplo do que é um património histórico nacional.

O terceiro grupo contém textos que nos fazem descobrir documentos com interesse para a escrita e compreensão da nossa História em diversas épocas: “A proposito de uma carta de Baltazar Lopes da Silva”, “O quotidiano cabo-verdiano a partir de um documento do Século XVIII”; “Aspectos da administração Publica no Século XIX” e “Nos 450 anos da Diocese de Cabo Verde”.

Na maioria desses textos o Autor, a partir de um documento, retrata-nos uma história. Assim, através da carta de Baltazar Lopes entramos na polémica ainda não resolvida da existência de vestígios de um povoamento de Cabo Verde anterior ao dos portugueses.
No texto sobre aspectos da administração pública em Cabo Verde no século XVI, João Lopes Filho analisa a situação da administração local e central em Cabo Verde através do relatório, datado de 1846, do governador D. José Miguel de Noronha.
A comemoração dos 450 anos da diocese de Cabo Verde nos é descrita através da acta da primeira reunião da comissão reunida para a organização desse feito.

Deixei para o fim o meu texto preferido que se debruça sobre o quotidiano cabo-verdiano com base no relato da viagem e da estadia do Capitão Roberts, em Cabo Verde entre 1720 e 1724.  
A análise crítica que João Lopes Filho faz a esse documento é a meu ver preciosa, já que nos permite entrar nele e retirar as informações mais importantes do ponto de vista não só antropológico, mas também histórico. Com esta análise o Autor facilita, principalmente aos leitores que não estão ainda familiarizados com a documentação história, uma abordagem a este importante documento, já que é um dos poucos que nos informa sobre a vida nas ilhas ditas donatárias, numa época em que a administração régia ainda a elas não tinha chegado.

Não posso terminar esta minha leitura das “Crónicas do Tempo que Passou” sem agradecer, mais uma vez, a honra que o Professor João Lopes Filho me fez em me escolher para apresentar esta sua obra que terá, sem dúvida nenhuma, uma utilidade para todos que se interessam pela História e conservação do Património Cultural no nosso País.

Iva Cabral

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João Lopes Filho apresenta livro na Cidade Velha

“Crónicas do Tempo que Passou”, de João Lopes Filho, editado pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, é lançado no próximo dia 20, às 18 horas, sexta-feira, no Real Tours/Terreiro da Cultura, Cidade Velha, com o apoio da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago.

Apresentado por Iva Cabral, esta obra do antropólogo e historiador Dr. João Lopes Filho agrega um conjunto de trabalhos que se relacionam com o passado da Cidade Velha, candidata a Património da Humanidade, e vem enriquecer a bibliografia que tem por tema o berço da Nação cabo-verdiana.

O Dr. João Lopes Filho, professor da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade de Cabo Verde, é autor de vasta obra que versa diferentes áreas do saber.

A Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, que tem na promoção da Cultura um dos pilares para o seu desenvolvimento, associa-se assim honrosamente ao lançamento de um livro de um autor que, deste modo, contribui para o património cultural da Cidade Velha. Um momento musical, ao encontro das tradições da Ribeira Grande de Santiago, dará cor à apresentação do livro de João Lopes Filho.

in Site CIDADE VELHA, 18 de Março de 2009